(conto baseado em fatos reais escrito por Gustavo Rocha)
Era uma vez uma empresa que tinha vários cargos - todos sempre muito importantes, afinal o trabalho e o resultado é que importam - mas, três cargos em especial eram muito bem vistos: O diretor, o primeiro e segundos gerentes.
O diretor era a figura administrativa, comandava a tudo, decidia tudo que a empresa precisava. O primeiro gerente tinha uma função essencial: Recursos humanos. Era ele o responsável pelo ingresso dos novatos na empresa, lhes explicar as funções, como era tudo e prepará-los para o trabalho. O segundo gerente tinha a responsabilidade de pegar os nem tão novos assim, que já estavam aptos a produzir e criar coisas novas e lhes dar a oportunidade de estudarem, aprenderem e se tornarem funcionários plenos, mestres de seu ofício.
Era uma empresa muito democrática. Depois que todos se tornavam funcionários plenos de seu ofício, ganhavam percentuais da empresa, ou seja, se tornavam sócios. Por serem sócios, se cumprissem o que estava no estatuto da empresa, poderiam votar e ser votados e era assim que os cargos dentro da empresa eram preenchidos: democraticamente.
Numa destas idas e vindas da empresa, foi eleito um diretor diferente, um diretor que já havia buscado se eleger e não tinha conseguido, já tinha buscado o poder dos demais sócios e não havia retorno. Contudo, o diretor parecia ter mudado nos últimos anos. Parecia ter aprendido que na vida o importante não é mudar o contexto, mas mudar a nós mesmos. Nas palavras do poeta Joaquim Pessoa: “E de todas as verdades secretas nenhuma é mais hipócrita que aquela que nos diz que os tempos eram outros, quando na realidade o tempo era o mesmo e os outros éramos nós.”
Os funcionários estavam felizes com a nova direção e gerência. Planos novos, tudo novo. Ideias boas e pessoas motivadas. Tudo que uma empresa precisa.
Infelizmente, o diretor não compreendeu assim. Ele entendeu de forma equivocada, pois confundiu o poder com o cargo. Cargo, todos podemos ter. Poder, somente quem nos dá são os acionistas. O poder emana do povo, já disse a sabedoria popular.
Começaram os problemas por aí. Ao invés de escutar os mais antigos, aqueles que sabem como funciona os meandros da empresa, o diretor arvorou para si a responsabilidade de tudo, como se ele fosse o único funcionário da empresa.
Ao invés de dividir responsabilidades e confiar nos gerentes e demais detentores de cargos internos, ele atacava, cruzava e tentava cabecear a bola, depois voltando pra defesa e ficando no gol, em suma, tentou abraçar o mundo.
Por óbvio, ninguém sente-se motivado com tais atitudes. Bem pelo contrário, os funcionários começaram a faltar, a ficar doentes, a fazer apenas as tarefas sem muita vontade, fazer por fazer.
Alguns dirão que a culpa é dos funcionários e demais gestores, afinal, o diretor estava fazendo de tudo para dar certo.
Até o inferno está cheio de boas intenções, diz a sabedoria popular.
Se meter onde não é a sua função não apenas atrapalha, mas tira o nexo do trabalho dos demais colaboradores.
Os gerentes não sabiam mais o que fazer: Eram ordens e instruções normativas a todo instante, enaltecendo o tempo todo a direção da empresa - ou seja, um narcisismo exacerbado de si mesmo - e ao mesmo tempo dando normas aos demais colaboradores de situações que seriam atribuições deles (gerentes).
Sócios (lembre-se que todos funcionários eram acionistas, desde que estivessem pleno no trabalho), foram notificados por motivos que uma simples conversa bastaria.
Um total excesso de formalismo, baseado na figura do próprio diretor, que ao invés de ver a empresa como algo ao seu lado, como pessoas livres e de boa vontade querendo o sucesso da empresa, via a todos como subordinados e funcionários apenas.
Eu sou o poder, pensava ele no alto da sua escrivaninha. Tudo de bom que existe ocorreu porque eu estou no comando. Eu, eu, eu. Os outros olhavam com desdém ou até mesmo com falta de vontade de servir a empresa, mesmo sendo sócios da mesma, posto que a liderança, ou melhor, a chefia não colaborava no desenvolvimento da empresa.
Alguma similitude com a sua empresa?
Quando os chefes que se acham a última bolacha do pacote se darão conta que na verdade somente serão líderes se tiverem o poder e não apenas o cargo?
Ter o poder significa que todos (ou a maioria) estão te mantendo lá, estão te apoiando, estão buscando o melhor para a empresa e vendo que as suas decisões são acertadas. Ter o cargo é simples, basta ser eleito uma vez e irá ficar lá até acabar o mandato.
A humildade de pensar na coletividade, aliada a tolerância das diferenças entre as pessoas, somando-se as boas ideias - que podem vir de qualquer sócio, mesmo um recém funcionário pleno - nos levam a uma liderança da maioria.
Quando faço esta reflexão comigo, afirmo: Eu quero o poder da maioria. Eu quero ser eleito não para um cargo, pois para mim cargo rima com encargo. Quero a responsabilidade de ver com outros olhos uma empresa que também é minha.
E você? Como vê a sua empresa?
Independente de eleição direta, todos somos eleitos quando temos cargos ou funções de comando.
Deixo esta reflexão para o feriado... Até segunda!
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Artigo escrito por Gustavo Rocha – Sócio da Consultoria GestaoAdvBr
www.gestao.adv.br | gustavo@gestao.adv.br
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