quarta-feira, 24 de março de 2010

ERP: Vivo ou morto

O ERP morreu e renasceu várias vezes. Afinal, o que este acrônimo tem de especial?

COmputerword - 16 de março de 2010 - 10h03

Em julho de 1999, meu primeiro artigo como colunista do Computerword foi sobre ERP. O título bastante sugestivo era: "O ERP morreu, viva o ERP". Mais de uma década depois, pude constatar que ele morreu e renasceu várias vezes. Afinal, o que este acrônimo tem de especial?

Para começar, ERP não é uma coisa só. São duas. Tão ligadas, que é difícil separá-las. A primeira é um modelo de negócios, um conjunto de práticas que engloba as atividades de uma empresa, desde o planejamento à execução. A segunda é a solução informatizada que suporta esse modelo. De fato, nos dias de hoje, elas são tão inseparáveis que seria inconcebível um ERP na base do lápis e papel. A primeira parte é a alma, a segunda é o corpo.

O ERP como modelo de processos, a alma, não costuma morrer. Apesar de toda a revolução da tecnologia da informação, a maior parte da economia baseia-se em processos de negócios clássicos que foram melhorados pela TI, mas são fundamentalmente os mesmos de décadas atrás. O núcleo funcional do ERP permanece intacto para muitos.

Nem por isso ele está parado. Tem sido engordado sob vários aspectos: 1) Incorporação de soluções mais completas em áreas como CRM, governança corporativa, planejamento operacional, integração com chão de fábrica, entre outras. 2) Adoção de soluções verticais, especializadas e adaptadas a determinados segmentos de mercado. 3) Ampla integração com parceiros de negócio para transações comerciais, gestão de projetos e desenvolvimento de novos produtos. 4) Maior foco na análise dos dados; na forma de melhor compartilhá-los e visualizá-los pelos diferentes tipos de usuários existentes numa organização.

A adição de tanta riqueza funcional levou nosso outrora monolítico e enxuto pacote integrado a uma complexidade sem igual, cada vez mais difícil de manter e incompatível com a realidade empresarial, que exige flexibilidade e velocidade. Daí, uma série de insatisfações com o ERP.

No lado tecnológico do ERP, o corpo, encontramos um mundo ainda mais vibrante. Com o anseio de atender às nossas expectativas e movidos pela força inovadora da informática, os criadores de ERP descartam e reconstroem seus produtos ao sabor das ondas da tecnologia. A Internet, o software livre, a arquitetura orientada a serviços e a "cloud computing" deixaram a sua marca. Este último é um dos principais eixos de evolução do conceito nos próximos anos.

SAP e Oracle, os grandes fornecedores de soluções ERP, ainda possuem grande parte da sua base de clientes na dita velha economia, muito menos dinâmica que o mundo da TI. Desta forma, muitos deles acabam sofrendo uma dupla pressão: a insatisfação dos seus clientes internos e o trator da renovação dos fornecedores. Em tempos de vacas gordas, as diferenças são facilmente resolvidas. Com as vacas magras, os problemas vêm à tona e tudo é questionado: custos, serviços, aspectos técnicos e funcionais.

Não posso recriminar aqueles que preferem esquecer o acrônimo. O ERP compreende um espectro de soluções bastante diversificado e complexo. As palavras pacote ou sistema mal podem retratar o que está por trás do dia-a-dia das transações eletrônicas de uma grande corporação atual.

O ERP não está morto, sofre de obesidade mórbida. Os assassinatos recorrentes do ERP são um mal necessário. Resta-nos acreditar e trabalhar para que as novidades tecnológicas venham para nos trazer as promessas de organizações cada vez mais ágeis e rentáveis.

Fernando Birman é Diretor de Estratégia e Arquitetura de TI do Grupo Rhodia e trabalha em Lyon (França).

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